quarta-feira, 23 de julho de 2014

Um golpe de sucesso

O crescimento da cultura das artes marciais na sociedade vai além das competições e aparece como aliado da saúde física e mental de quem pratica
Por Bruna Oliveira
Hoje é muito comum ver pessoas, tanto homens quanto mulheres, vidrados em frente à televisão para ver alguma luta, seja do UFC (Ultimate Fighting Championship), que reúne diversas estilos no ringue, ou lutas por modalidade, como judô ou taekwondo. É uma febre que vem se alastrando e tomando conta do cotidiano e da cultura da população do país. O UFC é a maior organização de artes marciais mistas do mundo e é, hoje, uma das competições que chama mais a atenção dos brasileiros. Nomes como Anderson Silva, os irmãos Nogueira, Junior Cigano, Chris Weidman entre outros, mostram no tatame além de força, muita técnica e estratégia, pois atingir o psicológico do oponente também é um caminho. Entre tantas características, nota-se um crescimento constante das práticas de artes marciais em academias.
O sucesso das modalidades se reflete nos novos costumes da sociedade e chama a atenção da população em geral ganhando, a cada dia, novos adeptos. As artes marciais tornam-se, assim, aliadas à preocupação com a saúde física e mental dos praticantes. Muitas pessoas aderem às artes marciais por hobby, por ser uma forma de se exercitar sem compromisso com competições, somente com a intenção de desenvolver estímulos no corpo, melhorando assim, alguns aspectos corporais no dia a dia. Há cerca de um ano o jornalista Rhuan Torres, de 25 anos, pratica jiu jitsu e a escolha por essa modalidade tem um motivo: “eu faço porque é uma arte que trabalha bem o corpo, prega disciplina e exige muito vigor físico”, conta.
O jiu jitsu, é uma arte de origem japonesa que utiliza golpes de alavanca, torções e pressões para dominar e derrubar o oponente. O nome foi escolhido para identificar a forma de luta sem a utilização de armas, desenvolvendo, também, vários estilos de combate. Rhuan, que é faixa branca, treina três vezes por semana e, por enquanto, o objetivo é voltar à forma, mas ele quer, futuramente, participar de competições. “Depois que entrei no jiu jitsu fiquei com mais disposição para fazer outros exercícios como pedalar e correr. Eu ainda não participei de nenhuma competição, pois quero perder mais peso para entra bem numa disputa oficial”, explicou.
Ao longo dos anos, o Sesc tem se desenvolvido bastante no mundo das artes, especificamente no judô. Grupos de alunos vencedores são formados, treinados e os resultados aparecem em importantes competições ao redor do Brasil e do mundo. “A gente tem que saber unir as peças, cada aluno passa experiência para o outro e, assim, o grupo se fortalece nos campeonatos”, fala Vanialucia Silva, II Dan no judô e professora das equipes do Sesc em Santo Amaro, Recife. Segundo ela, o Sesc começou a investir nessa modalidade no início dos anos 2000, “eu comecei o trabalho na unidade de Piedade, preparei vários atletas para competições, naquela época, tive atletas campeões estadual, brasileiro e do sul-americano de judô”, explica.
As medalhas são recompensas do esforço realizado a cada treino e servem ainda de motivação para que a dedicação ao esporte seja sempre crescente. Atualmente o Sesc de Santo Amaro treina 4 equipes, contabilizando 30 alunos, mas com meta de ampliar esse número para 50 até o final do ano. As equipes participam das ligas estaduais de judô, e a partir dessas competições os alunos são pontuados no ranking da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), para entrar nas disputas regionais, nacionais e internacionais. Em 2011, o Sesc Santo Amaro levou 7 atletas para o Pan-americano realizado no Rio Grande do Sul, todos eles foram pódio. Em 2012, somente dois atletas participaram do Campeonato Sul-Americano, sediado no Chile, mas os dois foram campeões nas categorias disputadas. “O Sesc é tudo para os alunos quando oportuniza a prática de forma economicamente mais acessível e agora até gratuito, ajudando com os custos, como transporte. Podemos dizer que o Sesc trabalha o social no judô através da conquista de um lugar ao pódio, deixando estes alunos, que estão economicamente as margens da sociedade, visível aos olhos de muitos”, completa Vanialucia.
Além das equipes de Santo Amaro, o Sesc também conta com um grupo de judocas em Triunfo, no sertão de Pernambuco. “Temos 35 praticantes com idades de 05 a 33 anos. Temos atletas de todas as categorias (super ligeiro, ligueiro, meio leve, leve, meio médio, medio, meio pesado, pesado e super pesado) conforme suas classes de idade”, destaca o Mestre José Morais, responsável pelas aulas em Triunfo. As turmas são divididas em 3 categorias: iniciação, iniciados e alto rendimento. Os alunos, por enquanto, estão competindo na esfera estadual, mas representa um avanço importante para o município que fica a 410 km da capital pernambucana. “Por se tratar de uma cidade muito pequena (15 mil habitantes) que não tinha a cultura do esporte de rendimento, estamos tendo um bom desenvolvimento. E isso contribui para a descoberta de novos talentos na modalidade”, completa José Morais.
O bairro do Jordão, no recife é palco para um projeto social solidário que, por meio do taekwondo, está mudando a vida de muitas crianças e adolescentes da área, entre 7 e 16 anos. Josiel Trajano Bezerra, mais conhecido como Mestre Caica, trabalha com taekwondo desde 1982 e há cerca de um ano resolveu investir no desenvolvimento desse projeto. Cerca de 120 alunos são beneficiados com a iniciativa. O principal objetivo dessa missão solidária é resgatar crianças e adolescentes do mundo do crime e incentivar a prática esportiva aliada à educação. “Para participar das aulas de taekwondo, a gente exige que os alunos estejam matriculados na escola e também fazemos avaliação médica para garantir que o atleta esteja em condições físicas para treinar”, explica o Mestre Caica.
As aulas acontecem uma vez por semana, numa quadra comunitária do bairro, e o Mestre Caica conta com o apoio voluntário de dois atletas faixas preta. Mas essa história de solidariedade conta com dificuldades no meio do caminho. “Nós não contamos com nenhum patrocínio, às vezes um vereador nos ajuda dando kimonos, mas a maioria das coisas fica por nossa conta”, conta Caica. Porém essa situação não desanima o Mestre, ele garante que o projeto tem muitos resultados positivos, “os pais dos alunos chegam para falar com a gente e contam que eles melhoram as notas na escolha e também o comportamento em casa, isso é gratificante”, finaliza.
E o mercado está ampliando não só para praticantes de artes marciais, mas também para investidores em academias, equipamentos e vestimentas dos esportes. Como é o caso da MXA Fight Wear, uma loja que aposta no conceito de atitude, determinação e fé para atrair clientes, mostrando ser esse o caminho para o desenvolvimento e sucesso na atividade de qualquer arte marcial. O local é especializado na comercialização de produtos relacionados com os esportes, além de promover atletas, treinadores e eventos do segmento. “A gente começou como uma marca que fabricava bermudas e camisetas para MMA e depois vimos a necessidade de expandir para atender à demanda que surgiu”, disse Max Sampaio, um dos sócios da loja. Max acredita que a MXA trouxe ao mercado um conceito diferenciado para a prática de artes marciais em Recife e que o espaço hoje tornou-se um complexo de atividades. “Temos a loja para comercialização dos produtos, temos academia para todos os tipos de luta e também estamos inaugurando uma sala de fisioterapia, nossa loja é a única do Nordeste nesse”, conta.

O ringue também é delas
As mulheres têm invadido o tatame, mostrando que esse é um campo bem diversificado e que não tem preferência ou definição por gênero. O grande nome feminino mundial é a americana Ronda Rousey, ex judoca e lutadora do MMA. A história de conquistas da atleta, primeira mulher a assinar contrato com o UFC e primeira campeã peso-galo da organização, serve de inspiração para iniciantes em diversas modalidades de luta.
A jovem Alice Melo, de apenas 18 anos, é adepta do kick boxe e do muay thai desde setembro de 2012. Ela escolheu esses tipos de luta por gostar do ritmo e, também, como incentivo para não ficar parada. “Eu treino 3 ou 4 vezes por semana, participo de competições internas da equipe que eu luto no Curado I, já ganhei medalha de ouro e troféu de melhor luta feminina”, conta. Apesar do bom desempenho no tatame – já é faixa vermelha – e da pouca idade, ela não tem pretensão de se tornar lutadora profissional, “eu gosto muito do esporte e quero crescer na arte, mas só como hobby”, confessa Alice.
Assim como ela, a química industrial Ana Flávia Rodrigues de 38 anos também aderiu às artes marciais. Desde 1990, ela pratica taekwondo. “Eu entrei por gostar da arte e pelo esporte trazes muitos benefícios e também pela defesa pessal”, explica. Ana já participou de várias competições estaduais e nacionais, chegou a ser a primeira colocado no Campeonato Pernambucano de Taekwondo. Mas a temporada de disputas oficiais ficou para trás, “Hoje eu não tenho tempo para competir, só treino duas vezes por semana e quem participa de campeonatos treina praticamente todos os dias”, completa. 

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