O
crescimento da cultura das artes marciais na sociedade vai além das competições
e aparece como aliado da saúde física e mental de quem pratica
Por
Bruna Oliveira
Hoje
é muito comum ver pessoas, tanto homens quanto mulheres, vidrados em frente à
televisão para ver alguma luta, seja do UFC (Ultimate Fighting Championship),
que reúne diversas estilos no ringue, ou lutas por modalidade, como judô ou
taekwondo. É uma febre que vem se alastrando e tomando conta do cotidiano e da
cultura da população do país. O UFC é a maior organização de artes marciais
mistas do mundo e é, hoje, uma das competições que chama mais a atenção dos
brasileiros. Nomes como Anderson Silva, os irmãos Nogueira, Junior Cigano,
Chris Weidman entre outros, mostram no tatame além de força, muita técnica e
estratégia, pois atingir o psicológico do oponente também é um caminho. Entre
tantas características, nota-se um crescimento constante das práticas de artes
marciais em academias.
O sucesso
das modalidades se reflete nos novos costumes da sociedade e chama a atenção da
população em geral ganhando, a cada dia, novos adeptos. As artes marciais
tornam-se, assim, aliadas à preocupação com a saúde física e mental dos
praticantes. Muitas pessoas aderem às artes marciais por hobby, por ser uma
forma de se exercitar sem compromisso com competições, somente com a intenção
de desenvolver estímulos no corpo, melhorando assim, alguns aspectos corporais no
dia a dia. Há cerca de um ano o jornalista Rhuan Torres, de 25 anos, pratica
jiu jitsu e a escolha por essa modalidade tem um motivo: “eu faço porque é uma
arte que trabalha bem o corpo, prega disciplina e exige muito vigor físico”,
conta.
O
jiu jitsu, é uma arte de origem japonesa que utiliza golpes de alavanca,
torções e pressões para dominar e derrubar o oponente. O nome foi escolhido
para identificar a forma de luta sem a utilização de armas, desenvolvendo,
também, vários estilos de combate. Rhuan, que é faixa branca, treina três vezes
por semana e, por enquanto, o objetivo é voltar à forma, mas ele quer,
futuramente, participar de competições. “Depois que entrei no jiu jitsu fiquei
com mais disposição para fazer outros exercícios como pedalar e correr. Eu
ainda não participei de nenhuma competição, pois quero perder mais peso para
entra bem numa disputa oficial”, explicou.
Ao
longo dos anos, o Sesc tem se desenvolvido bastante no mundo das artes,
especificamente no judô. Grupos de alunos vencedores são formados, treinados e
os resultados aparecem em importantes competições ao redor do Brasil e do
mundo. “A gente tem que saber unir as peças, cada aluno passa experiência para
o outro e, assim, o grupo se fortalece nos campeonatos”, fala Vanialucia Silva,
II Dan no judô e professora das equipes do Sesc em Santo Amaro, Recife. Segundo
ela, o Sesc começou a investir nessa modalidade no início dos anos 2000, “eu
comecei o trabalho na unidade de Piedade, preparei vários atletas para
competições, naquela época, tive atletas campeões estadual, brasileiro e do sul-americano
de judô”, explica.
As
medalhas são recompensas do esforço realizado a cada treino e servem ainda de
motivação para que a dedicação ao esporte seja sempre crescente. Atualmente o
Sesc de Santo Amaro treina 4 equipes, contabilizando 30 alunos, mas com meta de
ampliar esse número para 50 até o final do ano. As equipes participam das ligas
estaduais de judô, e a partir dessas competições os alunos são pontuados no
ranking da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), para entrar nas disputas
regionais, nacionais e internacionais. Em 2011, o Sesc Santo Amaro levou 7
atletas para o Pan-americano realizado no Rio Grande do Sul, todos eles foram
pódio. Em 2012, somente dois atletas participaram do Campeonato Sul-Americano,
sediado no Chile, mas os dois foram campeões nas categorias disputadas. “O Sesc é
tudo para os alunos quando oportuniza a prática de forma economicamente mais
acessível e agora até gratuito, ajudando com os custos, como transporte. Podemos
dizer que o Sesc trabalha o social no judô através da conquista de um lugar ao
pódio, deixando estes alunos, que estão economicamente as margens da sociedade,
visível aos olhos de muitos”, completa Vanialucia.
Além
das equipes de Santo Amaro, o Sesc também conta com um grupo de judocas em
Triunfo, no sertão de Pernambuco. “Temos 35 praticantes com idades de 05 a 33
anos. Temos atletas de todas as categorias (super ligeiro, ligueiro, meio leve,
leve, meio médio, medio, meio pesado, pesado e super pesado) conforme suas
classes de idade”, destaca o Mestre José Morais, responsável pelas aulas em
Triunfo. As turmas são divididas em 3 categorias: iniciação, iniciados e alto
rendimento. Os alunos, por enquanto, estão competindo na esfera estadual, mas
representa um avanço importante para o município que fica a 410 km da capital
pernambucana. “Por se tratar de uma cidade muito pequena (15 mil habitantes)
que não tinha a cultura do esporte de rendimento, estamos tendo um bom
desenvolvimento. E isso contribui para a descoberta de novos talentos na
modalidade”, completa José Morais.
O
bairro do Jordão, no recife é palco para um projeto social solidário que, por
meio do taekwondo, está mudando a vida de muitas crianças e adolescentes da
área, entre 7 e 16 anos. Josiel Trajano Bezerra, mais conhecido como Mestre
Caica, trabalha com taekwondo desde 1982 e há cerca de um ano resolveu investir
no desenvolvimento desse projeto. Cerca de 120 alunos são beneficiados com a
iniciativa. O principal objetivo dessa missão solidária é resgatar crianças e
adolescentes do mundo do crime e incentivar a prática esportiva aliada à
educação. “Para participar das aulas de taekwondo, a gente exige que os alunos
estejam matriculados na escola e também fazemos avaliação médica para garantir
que o atleta esteja em condições físicas para treinar”, explica o Mestre Caica.
As
aulas acontecem uma vez por semana, numa quadra comunitária do bairro, e o
Mestre Caica conta com o apoio voluntário de dois atletas faixas preta. Mas
essa história de solidariedade conta com dificuldades no meio do caminho. “Nós
não contamos com nenhum patrocínio, às vezes um vereador nos ajuda dando
kimonos, mas a maioria das coisas fica por nossa conta”, conta Caica. Porém
essa situação não desanima o Mestre, ele garante que o projeto tem muitos
resultados positivos, “os pais dos alunos chegam para falar com a gente e
contam que eles melhoram as notas na escolha e também o comportamento em casa,
isso é gratificante”, finaliza.
E
o mercado está ampliando não só para praticantes de artes marciais, mas também
para investidores em academias, equipamentos e vestimentas dos esportes. Como é
o caso da MXA Fight Wear, uma loja que aposta no conceito de atitude, determinação
e fé para atrair clientes, mostrando ser esse o caminho para o desenvolvimento
e sucesso na atividade de qualquer arte marcial. O local é especializado na
comercialização de produtos relacionados com os esportes, além de promover
atletas, treinadores e eventos do segmento. “A gente começou como uma marca que
fabricava bermudas e camisetas para MMA e depois vimos a necessidade de expandir
para atender à demanda que surgiu”, disse Max Sampaio, um dos sócios da loja.
Max acredita que a MXA trouxe ao mercado um conceito diferenciado para a
prática de artes marciais em Recife e que o espaço hoje tornou-se um complexo
de atividades. “Temos a loja para comercialização dos produtos, temos academia
para todos os tipos de luta e também estamos inaugurando uma sala de
fisioterapia, nossa loja é a única do Nordeste nesse”, conta.
O ringue também é delas
As
mulheres têm invadido o tatame, mostrando que esse é um campo bem diversificado
e que não tem preferência ou definição por gênero. O grande nome feminino
mundial é a americana Ronda Rousey, ex judoca e lutadora do MMA. A história de
conquistas da atleta, primeira mulher a assinar contrato com o UFC e primeira
campeã peso-galo da organização, serve de inspiração para iniciantes em
diversas modalidades de luta.
A
jovem Alice Melo, de apenas 18 anos, é adepta do kick boxe e do muay thai desde
setembro de 2012. Ela escolheu esses tipos de luta por gostar do ritmo e,
também, como incentivo para não ficar parada. “Eu treino 3 ou 4 vezes por
semana, participo de competições internas da equipe que eu luto no Curado I, já
ganhei medalha de ouro e troféu de melhor luta feminina”, conta. Apesar do bom
desempenho no tatame – já é faixa vermelha – e da pouca idade, ela não tem
pretensão de se tornar lutadora profissional, “eu gosto muito do esporte e
quero crescer na arte, mas só como hobby”, confessa Alice.
Assim
como ela, a química industrial Ana Flávia Rodrigues de 38 anos também aderiu às
artes marciais. Desde 1990, ela pratica taekwondo. “Eu entrei por gostar da
arte e pelo esporte trazes muitos benefícios e também pela defesa pessal”,
explica. Ana já participou de várias competições estaduais e nacionais, chegou
a ser a primeira colocado no Campeonato Pernambucano de Taekwondo. Mas a
temporada de disputas oficiais ficou para trás, “Hoje eu não tenho tempo para
competir, só treino duas vezes por semana e quem participa de campeonatos
treina praticamente todos os dias”, completa.
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